diversidade e reelaboração histórica

As curadoras Júlia Rebouças, Luciara Ribeiro e Naine Terena de Jesus partiram da reflexão sobre a herança de 1922 com base na produção artística e cultural de artistas que estão em atuação hoje. Acompanhe aqui os textos assinados por elas, que dão uma pista do que exposição traz em cada andar.

Piso 1

No avançar do ano de 2022, apesar do vírus, das queimadas, da bandeira e dos bandeirantes, reunimo-nos para refletir sobre a herança da Semana de arte moderna de 1922 a partir da produção artística e cultural de artistas que estão em atuação cem anos depois. Esse legado, que ajuda a dar corpo à matéria do presente, arrasta consigo promessas e dívidas, desejos e frustrações em torno desse potente ambiente de criação que chamamos de cultura brasileira.

Um século de agora reúne artistas e agentes da cultura que apresentam obras e projetos, em sua maioria, datados de 2022 – concluídos ou realizados neste ano –, sendo alguns trabalhos comissionados para esta mostra. Oriundos de 11 diferentes estados brasileiros, são pessoas que transitam por territórios geográficos, sociais e políticos produtores de dissidências, afirmando diferentes centralidades e recusando a hegemonia de eixos econômicos.

São artistas que engendram experiências que usualmente passam ao largo das efemérides oficiais e que, aqui, defendem perspectivas que concorrem com as narrativas derivativas da Semana de arte moderna de 1922, seja para adicionar contrapontos, seja para desafiar seus termos, em um exercício de reescrita constante da história. Como projeto de exposição, pretendemos pensar nas manifestações culturais e na criação artística como afirmações de um sentido de coletividade na alteridade, de comunhão no exercício da diversidade, de reelaboração histórica para invenção do agora.

Piso -1

Estar presente no momento que se reconhece como “o agora” nos traz a sensação de fazer parte de um apanhado de expectativas criadas em torno da potência de recriação ou da ressignificação de fatores socioculturais que consolidaram uma perspectiva de brasilidade. Esse sentimento se enraizou de tempo em tempo em diferentes núcleos de ação espalhados pelo país, mas é neste momento de avanços tecnológicos digitais que vemos as contranarrativas sendo inscritas a todo momento e disparadas de forma muito incisiva por aqueles que sempre disseram “Estamos aqui”, embora não fossem considerados nos discursos oficiais. E o fazem agora na forma de pensamento fluido, como perspectiva de outras narrativas, caracterizando uma importante maneira de pensar as contradições que vivemos no decorrer da história. 

Com base nessa perspectiva, podemos apreender, a partir das obras aqui apresentadas, algumas questões pertinentes para agora, quando tudo está colocado à mesa, ao mesmo tempo que não há nada na mesa, pois desmontar as expectativas e perspectivas cristalizadas de ser e estar no mundo é como movimentar corpos em práticas de ação contínuas. Vemos também nesse conjunto o que podem ser considerados fluxos, que, quando apresentados, carregam fazeres múltiplos, cosmologias distintas, encontros e desencontros, experiências de vida, idades e genealogias diferentes, que estabelecem um trânsito de muitos “agoras”, em que o agora pode logo tornar-se o antes, mas também elaborar perspectivas para o que vem depois. Alguns trabalhos potencializam o trânsito de tempos, seja o de um agora que foi passado, mas se perpetuou em forma de resistência, seja o de um agora que comunga com elementos naturais em processos de transformação ou o de um agora redesenhado com as cores das paletas de outras histórias.

Piso -2

Os últimos cem anos certamente constituem um dos períodos de maior densidade de transformações humanas e não humanas. É um século de surpresas e assombramentos sobre nossa capacidade de concentrar poder e espalhar desigualdade. As mãos civilizatórias modificaram a Terra, interferiram no curso da vida, alteraram o clima, aceleraram a noção de tempo, mudaram nosso sentido de existir.

Nesse período, o suposto progresso jogou para as margens o que se considerava impróprio, poluído, aquilo que merecia padecer, o que iria morrer. Matamos. Extinção de espécies; alagamentos; ventanias e deslocamentos inesperados de solo; adoecimento da terra, por improdutividade (ou superprodutividade?). Matamos. Ignoramos os efeitos e as reações num século em que o planeta adoeceu física e simbolicamente, e nós, como sociedade, também. Algumas coisas se mantêm, no entanto, por serem as sequelas e a própria doença: o capitalismo, a colonialidade, o racismo, os preconceitos, as desigualdades e seus “podres poderes”. 

Após esses apocalipses, como construiremos novos “agoras”? Como inventaremos novas formas de viver e pensar a vida? Como contaremos sobre o passado? Ou qual passado escolheremos? Quais matérias de vida nos interessam para o porvir? Nesse caminho de especulações, apresentamos aqui um conjunto de obras que, para as febres física e espiritual, evocam curas.

Júlia Rebouças, Luciara Ribeiro e Naine Terena de Jesus

Abertura: 17 de novembro, a partir das 20h

Visitação: 18 de novembro a 2 de abril de 2023 Terça-feira a sábado, das 11h às 20h Domingos e feriados das 11h às 19h   

Curadoria: Júlia Rebouças, Luciara Ribeiro e Naine Terena de Jesus

Idealização e realização:
Itaú Cultural

Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – próximo à estação de metrô Brigadeiro
Pisos 1, -1 e -2

Entrada: gratuita 

Informações: pelo telefone (11) 2168-1777 e WhatsApp (11) 9 6383 1663
De terça-feira a domingo, das 10h às 18h.
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